A minha mesa de café, o meu banco de jardim, o meu muro de lamentações, a minha varanda para o mundo

domingo, 24 de abril de 2011

E a Pascoa ,Hoje


Sim, mais uma!O dia começou radioso,quente, a lembrar-me Pascoas da minha infancia, que se perdem nos longes da minha memoria,em que eu flutuava na vaidade feliz do meu vestido novo, feito pela mãos hábeis e amorosas de minha mãe.
Dia de roupa e sapatos a preceito para ir à missa e depois de almoço, beijar o Senhor na cruz carregada pelos homens ou/e rapazes que acompanhavam o saudoso Padre Augusto, ajoujado na sua longa batina negra, a alva que já não era muito alva, o cansaço pelo caminho longo, o calor do sol, e o peso dos anos..
Na verdade o Padre Augusto , que Deus Haja teria mais queixas a apresentar do seu próprio peso ,do que do peso que em si tinha a sua idade. Era um homem corpulento, cheio, que se deslocava entre as terras da freguesia no seu inseparável cavalo a que chamava amigavelmente de mariola..
Em minha casa, a ultima a visitar todos os anos, demorava o séquito pascal sempre mais tempo, pois, para alem do descanso que seria saber que já não havia mais casa a visitar , mais saudações a repetir, mais copos de vinho, amêndoas e folar a aceitar ou rejeitar, era apetecível e necessário um descanso depois da subida um pouco dolorosa. Era para mim um regalo, ver aquela gente toda de opas escarlates, refastelar-se, dividindo-se entre o nosso sofá- que era o banco de trás, de um velho carro que meu pai teve,coberto com um cretone floridissimo- e as restantes cadeiras da sala, de chão encerado, que eu me tinha afadigado a fazer brilhar!!
A Pascoa de hoje não tem nem de longe nem de perto, a poesia das Pascoas de antanho. O anho foi assado e comido num restaurante, eu não estreei a roupa nova, não fui à missa e a minha casa não tem a visita Pascal. Alias,nem sequer passei por qualquer manifestação de Pascoa,a não ser por uns sonoros foguetes lançados de quando em vez .
Mas nada de ouvir o tilintar inolvidável da velha campainha que na frente anuncia a chegada da Cruz.Nem sequer! E tive saudades.

Sem comentários:

Enviar um comentário